A cidade de Alta Floresta, em Mato Grosso, ganhou destaque nacional após afirmar que, com a implementação do método IntraAct Brasil, a taxa de alfabetização de alunos do 2º ano subiu de 35% para 83%. O método, desenvolvido na Alemanha, baseia-se na repetição de sons e promete ensinar crianças a ler e escrever em apenas 4 meses. No entanto, os dados oficiais do Ministério da Educação (MEC) divergem significativamente dessa alegação.
De acordo com o Indicador Criança Alfabetizada do MEC, apenas 53,5% dos alunos de Alta Floresta estavam com conhecimentos adequados em língua portuguesa em 2023, número bem abaixo do índice apresentado pelo município e também inferior à média nacional de 56%. Essa disparidade gerou questionamentos sobre a metodologia usada pela cidade e sobre a forma como os dados foram coletados.
O Método IntraAct: Resultados e Controvérsias
O IntraAct Brasil é um método de alfabetização que se baseia na memorização e repetição de sons de letras, com o objetivo de tornar a leitura e a escrita mais automáticas. A implementação da técnica em Alta Floresta gerou polêmica, com defensores argumentando que o método acelera o aprendizado, especialmente para crianças com dificuldades de aprendizagem. No entanto, críticos apontam que essa abordagem pode limitar a capacidade de interpretação de textos e criatividade dos alunos, transformando-os em “máquinas de repetir sílabas”.
Irene Duarte, responsável por trazer o IntraAct ao Brasil, defende a eficácia do método, citando resultados positivos em Alta Floresta, como o fato de todas as 33 crianças de uma escola pública estarem lendo ao final de 2021, incluindo uma criança indígena e uma com deficiência intelectual.
Divergência nos Dados
A disparidade entre os dados da Secretaria de Educação de Alta Floresta e os resultados do MEC levanta questionamentos sobre a metodologia de avaliação. A Secretaria local argumenta que os dados do MEC não incluem a rede pública de ensino e que a variação nos resultados pode ser explicada pelo fluxo de alunos que ingressaram nas escolas municipais vindos de outras redes. Além disso, a cidade recebeu o Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização do MEC, em reconhecimento às ações do município para promover a alfabetização.
Entretanto, para especialistas como a professora Elaine Vidal, da USP, a discrepância nos dados reflete uma limitação do método IntraAct. Ela acredita que o foco na memorização sem contexto pode ser uma abordagem insuficiente para o desenvolvimento da leitura e interpretação de textos.
Conclusão
A diferença entre os índices apresentados por Alta Floresta e os dados do MEC evidencia a controvérsia em torno do método IntraAct. Embora o método tenha gerado resultados rápidos, ele continua sendo alvo de debates sobre suas limitações, principalmente quanto à interpretação de textos e à criatividade dos alunos. O debate sobre qual é a melhor forma de alfabetizar no Brasil permanece em aberto, com a busca por métodos que combinem rapidez e profundidade no aprendizado. Confira na integra aqui a reportagem do G1