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CNJ viu ‘esquema de venda de decisões’ ao afastar desembargador

CNJ viu ‘esquema de venda de decisões’ ao afastar desembargador

DEU NO "ESTADÃO"

CNJ viu ‘esquema de venda de decisões’ ao afastar desembargador

Sebastião de Moraes foi afastado em agosto, enquanto o CNJ investiga se ele recebeu propinas em troca de decisões

TJMT

A decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que administra e fiscaliza o Poder Judiciário, que afastou o desembargador Sebastião de Moraes Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, expõe suspeitas de venda de decisões judiciais e pagamentos via Pix e até em barra de ouro.

A reportagem do Estadão pediu manifestação do desembargador. Sebastião de Moraes Filho foi afastado das funções em agosto, enquanto o CNJ investiga se ele recebeu propinas em troca de decisões.

O caso também é objeto de um inquérito criminal.

As suspeitas foram consideradas tão graves que o ministro Luís Felipe Salomão, que na época estava à frente da Corregedoria do CNJ, levou o caso ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do conselho, para uma solução conjunta.

“Evidenciam-se elementos suficientes a recomendar o afastamento do magistrado, na medida em que não é possível que o desembargador permaneça em atuação em unidade tão sensível, como é um gabinete de segundo grau de câmara de direito privado”, diz um trecho da decisão, referendada pelo plenário do CNJ.

Conversas encontradas no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, na porta de seu escritório em Cuiabá, colocaram o desembargador na mira do Conselho Nacional de Justiça.

Eles trocaram 768 mensagens entre 14 de junho de 2023 e 5 de dezembro de 2023.

Os diálogos revelam uma relação próxima, com conversas sobre futebol e viagens, além de acesso livre ao gabinete do desembargador.

Também indicam a ingerência do advogado no trabalho do magistrado e o pagamento de propinas em troca de decisões favoráveis aos clientes de Zampieri.

Em uma das conversas, o advogado diz que “o Pix está errado, estornou o valor”. Tente mandar o Pix correto que faço agora”, emenda.

Cinco dias depois, afirma que “o pagto da sobrinha foi feito”, junta um comprovante da transferência no valor de R$ 10 mil e pede o adiamento de um julgamento.

Em outubro, Zampieri afirma ter conseguido “um contrato muito bom para o Mauro”.

E continua: “O senhor vai ficar feliz com o contrato que consegui para ele”.

Mauro, segundo suspeita o CNJ, é o advogado Mauro Thadeu Prado de Moraes, filho do desembargador.

O advogado também envia ao magistrado uma imagem de duas barras de ouro, que segundo ele tinham 400 gramas, e teriam sido usadas para o pagamento de propinas.

“Isso tudo, em paralelo com a incomum proximidade entre o magistrado e o falecido Roberto Zampieri, sugere, efetivamente, a existência de um esquema organizado de venda de decisões judiciais, seja em processos formalmente patrocinados por Zampieri, seja em processos em que o referido causídico não atuou com instrumento constituído, mas apenas como uma espécie de lobista no Tribunal de Justiça do estado do Mato Grosso”, concluiu o ministro Luís Felipe Salomão.

Outro detalhe chamou a atenção do CNJ: minutos após a execução do advogado, o desembargador enviou uma mensagem em que afirma que, em seus votos, Zampieri “ganhava e perdia”.

“ZAMPIERI Convivemos em harmonia e respeito por mais de 25 anos. Ganhava e perdia nos meus votos e sempre mostrava ser um advogado consciente. Deus o tenha. Que o receba de braços abertos”, escreveu Sebastião de Moraes.

Para o CNJ, o “magistrado pretendia plantar informações em seu favor”.

Fonte: FAUSTO MACEDO O Estado de S. Paulo

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