A professora Irene Duarte, 64 anos, tem transformado a alfabetização na rede pública de Alta Floresta (800 km de Cuiabá) por meio do método IntraAct. Desenvolvido na Alemanha nos anos 1990, o sistema vem sendo aplicado no município desde 2021 e tem apresentado resultados expressivos.
Na prática, crianças sem dificuldades de aprendizagem são alfabetizadas em um curto período, de três a quatro meses. Baseado na neurociência cognitiva, o método estuda como o cérebro processa informações, organizando letras em blocos e priorizando a facilidade da pronúncia em vez da ordem alfabética.
A implementação do IntraAct começou com uma turma de 40 alunos durante a pandemia. Segundo Irene, o envolvimento dos pais foi fundamental. “Eles também aprenderam o método e ajudaram os filhos em casa. Quando as aulas retornaram, as crianças já tinham autonomia e pleno domínio do sistema alfabético. Em quatro meses, todos estavam lendo”, relata a professora.
Diante do sucesso, o material foi adotado em toda a rede municipal. No início, apenas 35% das crianças do 2º ano estavam alfabetizadas. Com o fim do ano letivo, os índices subiram para 73% no 1º ano e 83% no 2º, conforme a Secretaria Municipal de Educação. Atualmente, a taxa de alfabetização chega a 90%.
O método utiliza fichas com quadros, cada uma apresentando uma única letra acompanhada por cores repetidas para reforço da memória. Um papel com abertura central, chamado “padrão”, auxilia a concentração das crianças durante a leitura. Conforme avançam, os alunos combinam letras para formar sílabas, palavras e, posteriormente, frases e textos.
A professora destaca que, em menos de um mês, os alunos dominam o primeiro grupo de letras. Caso apresentem dificuldades, a escola investiga possíveis causas. “Descobrimos casos de violência, abuso, fome e pobreza. O cérebro está pronto para aprender. Se isso não acontece, é porque há barreiras a serem superadas”, explica Irene.
Ela reforça a necessidade de uma rede de apoio com assistentes sociais, médicos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. “Nenhum método faz milagres sem estratégias eficazes e um monitoramento atento”, pontua.
Reconhecimento Nacional
Em 2024, Alta Floresta recebeu o Selo Ouro do Ministério da Educação (MEC), concedido a municípios que se destacam no cumprimento das metas do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, voltado à alfabetização de crianças até os 8 anos e à recuperação da aprendizagem. Desde então, o modelo tem sido replicado em escolas de diversas regiões do país.
Expansão em Santa Catarina
O governo de Santa Catarina anunciou, em 2025, um projeto piloto em 73 escolas públicas, com investimento de R$ 875 mil. O estado, que apresenta o menor índice de analfabetismo do Brasil segundo o Censo 2022, busca avançar ainda mais na educação. A seleção das escolas considerou índices de repetência e evasão, além do histórico de alunos com dificuldades de aprendizado. “Queremos reduzir o tempo de alfabetização, especialmente para crianças que enfrentam barreiras para aprender”, afirmou a secretária adjunta da Educação, Patricia Luefers.
Alfabetização para Todos
O método também tem sido aplicado na alfabetização de jovens, adultos e imigrantes. Em Joaçaba (SC), foi utilizado para ensinar português a 35 crianças estrangeiras do Haiti, Venezuela, Paraguai e Japão. Já em Paranaíta (MT), 830 km de Cuiabá, está sendo empregado em programas de alfabetização para idosos.
A reportagem foi destaque na Folha de São Paulo, evidenciando o impacto nacional do método de alfabetização aplicado em Alta Floresta.
(Com informações da Folha de São Paulo)