O preço médio da gasolina comum variou até 23,4% nos últimos 12 meses nos postos do país. Para abastacer o carro, o motorista pagou R$ 5,49 por litro do combustível na última semana, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural). Ou seja, R$ 1,81 a menos do que o valor cobrado em maio de 2022, quando chegou a bater o recorde de R$ 7,30.
O movimento de queda atinge também o diesel S-10, que recuou de preço pela 14ª semana consecutiva, atingindo R$ 5,57 por litro entre os dias 7 e 13 de maio. No mesmo período do ano passado, o litro chegou a R$ 7,07, uma queda de 21,2% nos últimos 12 meses.
A queda dos preços dos combustíveis é um reflexo do recuo das cotações internacionais do petróleo e da redução do dólar, explica o economista Robson Gonçalves, professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas). A moeda americana fechou nesta segunda-feira (15) a R$ 4,88, menor nível desde 7 de junho de 2022.
“Apesar de alguns cortes que foram promovidos recentemente, os preços do petróleo não estão se sustentanto muito acima da faixa de US$ 70 o barril. Se nós voltarmos para meados de janeiro deste ano, esse preço era da ordem de US$ 84 e R$ 85. Ele chegou a subir a esse patamar em meados de abril por conta do corte da Arábia Saudita, mas voltou a cair, e está hoje em torno de US$ 72 e US$ 73. Essa queda é importante e é uma queda tendencial, porque a economia mundial está crescendo menos que o esperado”, afirma o economista.
“Ao mesmo tempo a taxa de câmbio vem recuando no Brasil nas últimas semanas a partir de um patamar bastante alto, que chegou durante a pandemia se aproximando dos R$ 6. Hoje, está abaixo dos R$ 4,90. Como a Petrobras segue com sua política de paridade com os preços internacionais, essa somatória de queda dos preços internacionais e queda do dólar no Brasil explica o recuo do preço da gasolina”, acrescenta Gonçalves.
Segundo dados dos importadores, a gasolina vendida pela Petrobras está atualmente R$ 0,39 por litro acima da paridade de importação, e o diesel, R$ 0,28 mais caro. O que abre espaço para mais redução de preço. Na úlima sexta-feira, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que a empresa poderá reajustar os valores nesta semana.
“Acredito que, como a taxa de juros americana não deve continuar subindo. Tudo indica que, por conta da crise bancária, o banco central dos EUA vai parar de elevar as taxas. Com isso, como a taxa de juros de brasileira permanece muito alta, a gente tende a atrair mais capitais estrangeiros. Isso tende a aumentar a oferta de dólares no Brasil. A tendência são novos recuos do dólar, que vão abir espaço para novos cortes dos preços dos combustíveis pela Petrobras”, avalia o economista da FGV.
Em março, o preço da gasolina teve reflexo da volta da cobrança dos impostos federais PIS/Cofins sobre os valores do combustível nas refinarias. Esses tributos são repassados ao consumidor final na ponta da cadeia de consumo.
Para Brendon Rodrigues, head de inovação e portfólio na ValeCard, um outro fator que também tem impactado no preço da gasolina é que os postos começaram a repassar a redução do etanol anidro registrada nas usinas produtoras de São Paulo desde 24 de abril. “Para as próximas semanas, visualizo que ainda há espaço para que essa redução continue sendo repassada para o consumidor”, avalia Brendon.
O etanol anidro é misturado à gasolina comum, representando 27% de sua fórmula. Por isso, a variação de preços do combustível renovável tem influência no preço da gasolina. Segundo o indicador Cepea/Esalq, o preço do etanol anidro nas usinas produtoras de São Paulo caiu 11,92% desde o dia 24 de abril.
Os dados da inflação oficial divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada mostraram que o preço dos combustíveis recuou 0,44% no mês de abril, a primeira queda desde dezembro do ano passado (-0,9%).
A variação negativa apurada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi puxada pelos valores mais baixos cobrados pelo óleo diesel (-2,25%), pelo gás veicular (-0,83%) e pela gasolina (-0,52%). Por outro lado, o etanol está 0,92% mais caro.
Política de preços
A Petrobras informou no domingo (14) que está discutindo internamente alterações em suas políticas de preço para diesel e gasolina, que serão analisadas pela Diretoria Executiva da Companhia nesta semana e poderá resultar em uma nova estratégia comercial para definição de preços de diesel e gasolina.
Atualmente, a política de preços da estatal é atrelada ao mercado estrangeiro. Ou seja, se o óleo encarece ou o dólar (principal moeda no exterior) se valoriza em relação ao real, a Petrobras dá a ordem, em forma de reajuste, para que fique mais caro encher o tanque no Brasil. Essa política é chamada de PPI (preço de paridade internacional).
“Nesse sentido, a companhia esclarece que eventuais mudanças estarão pautadas em estudos técnicos, em observância às práticas de governança e os procedimentos internos aplicáveis”, afirmou em nota.